Cabinda, o protectorado português que Angola ocupou em 1975, transformando-o em sua província, vai ficar mais próximo do resto do país (ocupante) com a entrada em funcionamento de um novo terminal marítimo de passageiros, assinalou hoje o ministro angolano dos Transportes.
Ricardo Viegas de Abreu realçou que, além do impacto positivo para a vida das populações que passam a dispor de mais uma alternativa à via aérea, a infra-estrutura vai permitir incrementar as trocas comerciais e o trânsito de mercadorias para os países vizinhos, promovendo as exportações angolanas.
A obra, hoje visitada pelos mais altos dignitários de Angola (Presidente da República, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo, Comandante-em-Chefe das Forças Armadas), demorou cinco anos a ser construída e esteve a cargo da chinesa CGGC, tendo como subempreiteiros as empresas de origem portuguesa Mota-Engil Angola e Tecnovia.
O terminal deverá receber mais de cem navios por ano e transportar mais de 35 mil pessoas, devendo iniciar a operação em 26 de Abril, na rota Cabinda-Soyo (Zaire). O transporte a partir de Luanda tem início previsto para Maio.
Após a visita, João Lourenço fez um balanço “positivo” dos seus dois dias em Cabinda, referindo-se aos projectos “de grande importância” para o país que inaugurou, nomeadamente o Hospital Geral de Cabinda, a plataforma da Chevron que está a ser construída no Malongo e o terminal marítimo que vai servir para transporte de passageiros e de carga.
João Lourenço falou ainda sobre o quebra-mar, “um projecto há muito esperado” e que vai permitir que o porto de Cabinda esteja operacional durante todo o ano, pondo fim à impossibilidade de os navios acostarem na altura das calemas.
O chefe de Estado prometeu ainda respostas às preocupações da sociedade civil que lhe foram transmitidas na quinta-feira, nomeadamente no que diz respeito ao polo universitário de Cabinda e à reabilitação de algumas estradas, garantindo que os problemas de financiamento estão ultrapassados e que as obras vão avançar.
Adiantou igualmente que as obras do novo aeroporto de Cabinda, cujo concurso deverá ser lançado nos próximos dias, já não vão implicar as demolições que estavam previstas.
“Cabinda está de alguma forma bem servida com esses novos projectos, mas estará ainda melhor quando eu estiver no fim do segundo mandato”, brincou, numa alusão às eleições gerais prevista para Agosto de 2022, num episódio digno de um salto de gazela.
O Presidente tem sido pródigo em deslocações às províncias nos últimos tempos, num ritmo de pré-campanha eleitoral que suscitou críticas por parte do principal partido da oposição que o MPLA ainda permite, a UNITA, que acusou João Lourenço de usar as inaugurações como actos de campanha político-partidária. Nada de novo, portanto. Cada vez mais a mensagem é simples, embora nada original: O MPLA é Angola, Angola é do MPLA.
No início do mês, esteve de passagem pelo Cunene e chegou na quinta-feira para uma visita de três dias a Cabinda.
Esta dita província, tal como a Indonésia dizia que Timor-Leste era sua província, tal como Portugal dizia que Angola era sua província, uma das principais reservas de petróleo de Angola, é também pátria de movimentos separatistas como as Forças de Libertação do Estado de Cabinda, que permanecem activas e exigem há anos a autodeterminação.
Na última semana, os movimentos independentistas aproveitaram a visita do Presidente para dar mais visibilidade às suas reivindicações, com uma intensificação dos confrontos com o exército angolano, tendo anunciado mais de uma dezena de mortes de militares das Forças Armadas Angolanas, não confirmadas pelas autoridades militares do MPLA que, também nesta matéria, segue a metodologia russa na guerra à Ucrânia.
O governo tem insistido que Cabinda vive um clima de paz efectiva, mas são visíveis constrangimentos provocados pela visita do Presidente um pouco por toda a cidade, com uma elevada concentração de militares e polícia, bem como várias ruas com interdições e desvios de trânsito.
Abundam também os cartazes de boas-vindas a João Lourenço, seja apoiando o combate contra a corrupção ou agradecendo pela oferta de água de qualidade, em ruas enfeitadas com bandeiras amarelas e encarnadas, as cores do MPLA que está no poder desde que o país se tornou independente, em 1975.
Na quinta-feira, após ser recebido em audiência por João Lourenço, o bispo de Cabinda, Belmiro Chissengueti, elogiou os “bons sinais de reconciliação” dados pelo chefe do executivo angolano, após o seu encontro com o líder da oposição Adalberto da Costa Júnior (UNITA), mas salientou que era necessário que “a paz chegue para todos”.
Hoje, João Lourenço respondeu a perguntas colocadas por “jornalistas” do MPLA ao serviço da Televisão Pública de Angola e da Rádio Nacional de Angola, que incidiram (conforme ordens superiores) na realização de obras e infra-estruturas, sem que fosse questionado sobre este tema.
Na quinta-feira, a população de Cabinda festejou também com entusiasmo a reabertura da fronteira do Massabi que liga as cidades de Cabinda e de Ponta Negra (Congo-Brazzaville), após dois anos de encerramento devido à Covid-19, noticiaram os meios locais.
Entretanto, aproveitando a estratégia de campanha eleitoral, foi noticiado que a requalificação do sistema de balizagem luminosa da área de movimento do Aeroporto Internacional de Luanda vai custar 11 milhões de euros e será executada pela Mota-Engil Angola.
O despacho presidencial que autoriza a contratação emergencial deste serviço, no valor de 4.850 milhões kwanzas, foi hoje publicado no Diário da República e delega a abertura do procedimento de adjudicação no Ministério das Finanças.
A contratação emergencial é justificada com a urgência da requalificação deste sistema no aeroporto da capital angolana para manter “a robustez e operacionalidade do mesmo”.
Uma avaria na iluminação do sistema de balizagem deixou, na passada terça-feira, o Aeroporto Internacional de Luanda às escuras e várias aeronaves em terra.
Folha 8 com Lusa